ARTIGOS: Aliança PT-PMDB restringe-se a 10 capitais

Aliança PT-PMDB restringe-se a 10 capitais
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Raymundo Costa 02/07/2008
Jair Amaral EM/D. Press/Folha Imagem - 29/6/2008
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Fracassou o primeiro teste da aliança que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou como prioritária para sua sucessão, em 2010: PMDB e PT, os dois maiores partidos do país, coligaram-se em apenas 10 das 26 capitais brasileiras. Nenhuma nos maiores colégios eleitorais. O balanço das alianças firmadas para as eleições municipais de outubro revela um PT mais isolado que em 2004, nas grandes cidades, mas com perspectiva de avançar nos grotões e no mínimo superar a marca dos 500 prefeitos eleitos. Uma diferença é marcante: em apenas sete capitais o partido do governo fez alianças com os partidos do "mensalão" - PTB, PR (ex-PL) e PP - ou "recursos não contabilizados" responsáveis pela maior crise política vivida pelo governo Lula.
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A oposição também fechou o período de formação das alianças com motivos também de preocupação. O PSDB, partido com pré-candidaturas sólidas para 2010 - os governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais - dá a partida para a eleição municipal com chances reais, segundo as pesquisas, em dois dos quatro maiores colégios eleitorais: São Paulo, onde Geraldo Alckmin deve enfrentar uma disputa difícil contra Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (DEM) e Salvador, onde Antonio Imbassahy terá uma disputa igualmente renhida contra um aliado de oposição: ACM Neto, do Democratas. O PSDB é favorito em Curitiba (PR).
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O DEM virtualmente disputa pela sobrevivência: a aposta da renovação pode dar certo em Salvador, mas estão em jogo duas posições capitais: as prefeituras do Rio de Janeiro e de São Paulo. No Rio, cidade comandada pelos antigos pefelistas há oito anos, o Democratas aposta a pulverização do quadro eleitoral (são dez candidatos) para manter-se no poder com a noviça Solange Amaral. O mesmo critério, aliás, que levou o PT a contrariar Lula, segundo dizem auxiliares do presidente, e lançar a candidatura própria de Alessandro Molon: como "tudo é japonês", na definição de um dirigente petista, qualquer um pode ir para o segundo turno contra o candidato alavancado pela prefeitura.
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Sem o voto dos rincões, de onde foi aos poucos desalojado e para onde agora parece caminhar o PT e outros partidos de centro-esquerda, o DEM resolveu tentar a sorte nos grandes centros, escalou seus melhores nomes para compor as cédulas, abandonando a estratégia de sempre tentar compor com o candidato a vice e depois herdar a posição do titular, que deu certo em São Paulo, em 2004, mas pouco ou quase nada serviu para o crescimento do partido.
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Os interesses de Lula e do PT distanciaram-se nas negociações para a formação das alianças, segundo aliados do presidente no Congresso, ministros e assessores palacianos. Seria do interesse de Lula o PT firmar uma aliança com o PSDB em Belo Horizonte e apoiar Jandira Feghali (PCdoB) no Rio, em troca do apoio do Bloco de Esquerda em São Paulo. O PT aceitou o apoio do deputado Aldo Rebelo (PCdoB) em São Paulo, mas manteve Molon, no Rio, e vetou a coligação com os tucanos em Minas, em decisões da Executiva Nacional, da qual faz parte um dos principais auxiliares do presidente: o assessor para assuntos internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia.
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Em todas as votações ocorridas sobre a polêmica de Belo Horizonte não se conhece uma única manifestação de Marco Aurélio Garcia em favor da aliança formal com o PSDB. Nas reuniões do Diretório Nacional, as palavras mais enfáticas foram contrárias à aliança - o ministro Luiz Dulci fez discursos dramáticos contra a associação. Em conversa com o presidente, Dulci chegou a aventar a hipótese de se demitir, se a aliança com Aécio fosse uma questão de Estado. Está no cargo até hoje. Lula, pelo que se sabe, operou diretamente uma candidatura: a do ex-ministro da Previdência Luiz Marinho, que tentará resgatar para o PT a prefeitura de São Bernardo, cidade do ABCD paulista onde começou a aventura petista.
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No poder desde 2003, o PT é um partido em ascensão. Já na eleição de 2004 saltou de 187 para 411. Ou seja, mais que dobrou de posição nas cidades, mas ficou muito aquém do que foi projetado para aquela que ficou conhecida como a eleição do mensalão (boa parte das justificativas para a dinheirama era que se tratava de financiamento para a campanha). O PT queria eleger 1.000 prefeitos. Depois refez as contas e estimou em 700 o número de prefeituras a serem alcançadas. O mesmo número que agora a direção petista fala em alcançar em outubro, entre 700 e 800 municipalidades. Em particular, os dirigentes petistas contentam-se em falar em "mais de 500".
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É possível que, desta vez, o cálculo esteja subestimado. É normal o crescimento do partido no poder: embora encolha a cada eleição nos municípios, em 2004 o PMDB ainda manteve a primazia com a eleição de 1.257 prefeitos. O então PFL, hoje DEM, fez 790 (perdeu 240 prefeitos) e o PSDB, fez 871, contra 990 em 2000, quando era governo.
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É provável que o PT agora entre para o grupo dos grandes também nos municípios. Resta saber em que posição. Apesar da discussão interminável sobre a influência ou não das eleições municipais em nível nacional, o fato é que uma boa base de prefeitos e vereadores ajuda na hora de eleger deputados federais. Como prova o PMDB, que desde Sarney não elege o presidente da República, mas mantém bancadas fortes no Congresso.
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É no poder congressual que reside a força do PMDB, que mesmo sem candidatos a presidente acaba por se tornar o fiel da balança da governabilidade, seja o governo do PSDB, como aconteceu quando o tucano Fernando Henrique Cardoso era o presidente, como ocorre agora com Lula. O PT contribuiu para que a aliança preferencial anunciada por Lula não se concretizasse desde já, nas eleições municipais . Mas o PMDB também não fez a menor questão de deixar os dois pés numa canoa só. Quando os resultados da eleição de outubro forem apurados, o PMDB estará onde sempre esteve: de bem com o governo e com quem guarda a expectativa de poder, como o PSDB.
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Pelos cálculos iniciais da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), cerca de 4.000 prefeitos devem concorrer à reeleição, em outubro. A expectativa é que 58% deles sejam reeleitos - essa foi a proporção na eleição de 2000 em relação aos prefeitos eleitos em 1996, e de 2004 em relação a 2000, muito embora há quatro anos menos prefeitos tenham tentado o segundo mandato consecutivo. Os interesses locais prevaleceram na hora de confeccionar as coligações partidárias. Das 26 capitais - Brasília não tem prefeito -, os partidos aliados ao governo estão aliados às siglas de oposição (PSDB, DEM e PPS) em 24. O PT também demonstrou que é hegemônico no campo da esquerda: quando se viu ameaçado de ficar inteiramente isolado, após a deserção do PMDB, praticamente convocou os partidos do chamado "bloquinho" - PSB, PCdoB e PDT, que formam a base de sustentação da candidatura presidencial de Ciro Gomes - a compor com ele, na maioria dos casos em situações subalternas. O bloquinho só encabeça a chapa na disputa por duas capitais - Manaus e Aracaju -, embora concorra em dez.
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