PÓS CRISE AMERICANA

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A EROSÃO DO IMPÉRIO
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Líder da inteligência dos EUA prevê declínio da influência mundial de Washington, mas não vê nenhum país à altura de substituí-lo
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Intelectuais de esquerda e desafetos dos EUA levantaram pesados argumentos e vaticínios sobre o declínio norte-americano. Mas ninguém esperava uma análise tão heterodoxa quanto sombria vinda do coração do próprio império, dentro de uma de suas instituições mais tradicionais, o serviço secreto do país.
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Eis o prognóstico de Thomas Fingar, presidente do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA: "A dominação americana será muito reduzida [até 2025]. A esmagadora dominância que os EUA desfrutaram no sistema internacional nas áreas militar, política e econômica e, discutivelmente, na área cultural está erodindo e vai erodir num passo acelerado, com a exceção parcial do setor militar".
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Fingar falava numa conferência de agentes e analistas do setor de informações norte-americano. A transcrição de sua palestra está disponível na internet [leia quadro ao lado].
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Ele é considerado um dos mais importantes intérpretes da chamada "comunidade de inteligência" dos EUA, uma intricada teia de agências que incluem a CIA e vários outros órgãos cuja obrigação é coletar dados para análise estratégica do governo.
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Ao expor seu ponto de vista, Fingar resumia o conteúdo dos briefings oferecidos pelo serviço secreto aos dois candidatos principais a presidente dos EUA, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain. É costume esse tipo de reunião entre agentes de inteligência e políticos no período pré-eleitoral.
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Após a eleição, o novo presidente receberá um trabalho completo do serviço secreto, com uma avaliação de cenários possíveis para os EUA e para o mundo até 2025. O ocupante da Casa Branca usará documentos como esse na formulação de sua política nos próximos quatro anos.
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Sobre o processo de globalização, Fingar enxerga mais desigualdade. "A distância entre ricos e pobres -internacionalmente, regionalmente- vai crescer." Seria necessário, diz ele, uma reforma de várias estruturas de "tremendo sucesso" (FMI e Banco Mundial, entre outras), mas que ficaram obsoletas para "tratar dos desafios, das conseqüências da globalização". O problema é como implementar tal reforma. Toda idéia vinda dos EUA, "mesmo que seja uma idéia muito boa, estará manchada, se não completamente morta na largada" por causa da péssima imagem do país.
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O vácuo não será preenchido tão cedo. Fingar não identifica nenhuma força emergente capaz de exercer o poder de liderança desfrutado pelos EUA no Ocidente no período pós-Segunda Guerra Mundial.
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Sobrará aos EUA o poderio militar, mas "menos significante". Não haverá no futuro alguém interessado em "atacar com forças maciças convencionais". Fingar também esboça pessimismo a respeito dos efeitos da mudança climática no planeta sobre a geopolítica mundial. Vislumbra crises políticas provocadas pelas dificuldades derivadas do clima mais severo. Prevê desabastecimento de água em regiões como "o já instável Oriente Médio e a China".
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