A eleição de vários vencedore: a lição das urnas

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Helena Chagas (Da Agência Brasil)
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Brasília - O eleitor tem, às vezes, razões que a própria razão desconhece. Mas, mais de duas décadas ininterruptas de exercício do voto em regime plenamente democrático, entre outros fatores, parecem ter formado um eleitor mais pragmático, maduro e - por que não? – sábio.
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As urnas de 2008 mostram, em sua maioria, escolhas orientadas sobretudo pela racionalidade dos quesitos administrativos, deixando num segundo plano as paixões políticas conjunturais e imediatistas. É o que mostra, por exemplo, o festival inédito de reeleições por todo o Brasil. Nas capitais onde os prefeitos atuais concorreram, apenas Serafim Corrêa não obteve do eleitor sinal verde para continuar à frente da prefeitura de Manaus.
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A rodada eleitoral teve muitos vencedores. A base governista, que ficou com a maioria das prefeituras e reduziu espaços da oposição pelo país; o PMDB, que emplacou seis capitais, o maior número de prefeitos e engordou consideravelmente seu cacife político; o governador José Serra, que com a eleição de Gilberto Kassab se fortalece como candidato do PSDB em 2010; o presidente Lula, cujo apoio foi o sonho de consumo de candidatos de governo e de oposição e que sai da campanha sem nenhum arranhão; o PT, que também fez seis prefeitos de capitais e aumentou seu espaço no grupo das 70 maiores cidades; a dupla Aécio Neves-Fernando Pimentel, que por pouco não viu sua aliança PSDB-PT fracassar em Belo Horizonte e conseguiu virar o jogo no segundo turno...
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Mas não restam dúvidas de que o maior vitorioso de 2008 foi o instituto da reeleição. A esta altura, são cada vez mais rarefeitas as chances de aprovação de alguma das propostas que pretendem acabar com a reeleição – quase sempre apresentadas muito mais em função de questões políticas e partidárias circunstanciais do que de um desejo sincero de aprimoramento institucional. Pois agora, com o instituto consolidado definitivamente nas bases municipais e o eleitor acostumado com ele, a operação vai ficar mais difícil ainda. Até mesmo o argumento mais do que razoável sobre o uso da máquina por candidatos à reeleição, ainda que flagrante em alguns lugares, perdeu um pouco da força. Em 2008, boa parte das reeleições registradas, ao menos nas capitais, bate com boas avaliações anteriores das administrações dos reeleitos.
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Parece estar se confirmando, de fato, aquela previsão de que o mandato executivo, no Brasil, passou a ter oito anos, com direito a uma revogatória no meio. Será isso tão ruim assim? Pelo jeito, o eleitorado não acha.
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Consciente ou não, a sabedoria política do eleitor se traduz no mapa político que emergiu das urnas. No cômputo geral, noves fora, fica claro que, embora demonstrando clara preferência pelos candidatos governistas, o eleitorado não colocou todos os ovos no mesmo cesto.
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O PT, legenda de um presidente recordista em popularidade, cresceu e obteve vitórias importantes em cidades médias e grandes. Em milhões de votos, é o segundo maior partido do país. Mas ficou longe da hegemonia. No governo, terá que dividir a ribalta com o PMDB, que agregou o Rio de Janeiro às capitais que já governava, ficou com o maior número de prefeituras e, em termos partidários, sai como o maior vitorioso da eleição.
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As oposições, por sua vez, devem governar cerca de 10 milhões de eleitores a menos em relação a 2004. Mas, se PSDB e DEM minguaram no resto do país, ficaram com a maior das jóias da coroa: a prefeitura de São Paulo. É a lição das urnas. O eleitor ensina, os políticos aprendem.
Até o próximo teste, em 2010.
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